"A Companhia dos Lobos"

"E não se limitou a aprender com a experiência, mas os seus instintos há muito adormecidos acordaram. Foram derrubadas gerações de domesticação. De uma forma vaga, regressou à juventude da raça, quando os cães selvagens se agrupavam em matilhas na floresta primitiva e matavam para comer quando perseguiam as suas presas. Para ele não era problema aprender a lutar com golpes e rasgões e as rápidas dentadas de lobo. Tinha sido assim que haviam lutado os seus antepassados já esquecidos. Brotou rapidamente a antiga vida dentro de si, e os velhos truques inscritos na hereditariedade da raça eram também os seus. Emergiram nele sem esforço ou descoberta de coisas novas, como se sempre estivessem lá estado. E quando, na calma noite gelada apontou o focinho para as estrelas, uivou longamente como um lobo, ele era os seus antepassados, mortos e tornados já em pó, apontando o focinho para as estrelas e uivando através dos séculos, um uivo que vinha de dentro de si. E as suas cadências eram as cadências deles, as cadências que davam voz à mágoa e que para eles significavam a quietude, o frio e a escuridão." (Jack London, The Call of the Wind - o conflito entre um cão de São Bernardo, o "apelo da liberdade selvagem" e a sua relação com os lobos.)



Aqui está a "lobita", a cria do CRLI, que tendo de ser retirada à mãe, está sob delicados cuidados humanos. Tão pequenina, tão vulnerável, tão dependente...mas não deixa de ser um lobo, com esse seu "apelo da liberdade selvagem"! Aqui se coloca a questão do "imperativo da vinculação", de que fala Luís Soczka, estando a cria afastada da mãe num período delicado em que se começam a estruturar comportamentos sociais e vinculações afectivas que podem marcar para sempre o seu comportamento quando atingir a maturidade. Contudo - e ainda bem que assim é! -foi feito o melhor em termos da sua sobrevivência e estão a ser reunidos todos os esforços no sentido do seu bem-estar e de um desenvolvimento saudável...está em "boas mãos"!*